USO DA COISA PÚBLICA – Palavras de um Grande Mestre

Ruy Ferreira (*)

Publicado no site Sala do Ruy – http://saladoruy.com.br/


Esta semana estava observando a panfletagem nos corredores do Campus de Rondonópolis da UFMT e fiquei impressionado com a quantidade de anúncios, mensagens e cartazes. Chega a causar poluição visual nos corredores e entradas do Campus. Pena!
Ao passar pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) fiquei olhando o que estava colado em suas vidraças: cartazes da UEE e muitos cartazes de políticos dos que concorrem a cargos políticos na eleição 2002.
Ai a “ ficha caiu” e entrei no recinto sagrado dos estudantes, onde o presidente estava trabalhando com afinco no folder do congresso da UEE, pedi desculpas pela interrupção e perguntei-lhe: – “Por que não há cartazes dos quatro candidatos a Presidente da República colados nessas vidraças? Por que só há cartazes do candidato do PT?
O jovem parou, pensou e respondeu com firmeza: “porque eu não sou neutro”.
Que bom que o jovem tenha feito sua escolha partidária. Bom mesmo! Menos um alienado, para se vender por um milheiro de tijolos.
Entretanto, enquanto o corpo discente do Campus de Rondonópolis não fizer sua escolha por voto democrático ou autorizar em plebiscito o DCE a adotar um candidato, seja ele quem for, o presidente do DCE não tem o direito de ser parcial. Mas não tem mesmo!
A lógica que move o jovem estudante é o oportunismo do cargo. Isto é, sou o
presidente, logo o DCE é petista ou coligado a ele. Negativo!
Como deputado não pode escrever nova constituição, pois não tem mandato do povo para isso, o presidente do DCE não pode expor a instituição a uma lógica perversa que tendo o cargo, pode-se usar a máquina pública em proveito próprio ou de correligionários. Não cabe ao que detém o mandato de direção de qualquer instituição supra-partidária arvorar-se no direito de fazê-la de trampolim para quem quer que seja.
Certa vez, disse isso ao então presidente da ADUFMAT-ROO, quando nos
convidava para apoiar o MST. Ele, o presidente, pode apoiar quem quiser, mas nunca em nome da instituição que representa. Afinal, não aceitamos autoritarismos vindo de ninguém, independente da postura ideológica ou do cargo que ocupa. Basta a letra fria da lei que já nos obriga a tantas coisas.
Certamente o estudante foi firme na resposta dada, mas a ação política é imprópria e imoral aos olhos daqueles que não fizeram a mesma escolha do estudante-presidente.
Pois, o DCE ainda não consultou os estudantes sobre qual candidato ou que partido a instituição estudantil apoiará nessas eleições. Até lá, o DCE deve permanecer neutro, em especial, seu presidente.
O fato, simples e corriqueiro, vale como exemplo de como são formadas as
consciências em nosso país. Certamente, o jovem ficará amuado hoje, de cara feia até, por tal fato ter sido tratado em público, mas quando tiver a minha idade ele refletirá e dará boas gargalhadas do erro político que cometeu quando era presidente do DCE em Rondonópolis e o quanto é importante dar exemplos para os que ainda estão alienados a espera de uma oferta da dentadura em troca do voto.
Bem já que estamos falando nisso, alguém sabe se algum candidato tem usado a máquina administrativa para arrebanhar votos nessa eleição?


(*) Professor da UFMT que votará em trânsito este ano, por falta de salário decente.
Jornal “A Tribuna”, Rondonópolis-MT: p. A2, 04 de setembro de 2002

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61 9646-8509 Wilson Koressawa 62 999234841 Hélio Vítor
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